Exame é necessário para poder exercer a profissão no país. Dados obtidos via LAI mostram que, dos mais de 36 mil candidatos, 16.536 conseguiram passar para a segunda fase, ou 45,5% do total. Segundo o Inep, apenas 45,5% dos médicos foram aprovados na primeira fase do Revalida em 12 anos
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Nem metade dos médicos formados no exterior passou da primeira fase do Revalida, o exame necessário para validar o diploma no Brasil e poder exercer a profissão no país.
📋 Prova escrita: Desde 2011, quando passou ser aplicado pelo governo federal, dos 36.322 candidatos que fizeram a prova escrita pelo menos uma vez, 16.536 conseguiram passar para a segunda fase. Eles representam 45,5% do total.
🩺 Prova prática: Já na segunda etapa, que consiste em uma avaliação prática, a taxa de aprovação é maior: 80,5%. Dos 14.892 candidatos que fizeram essa fase, 11.988 foram aprovados.
Os dados do Inep sobre o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira foram obtidos pela produção da TV Globo via Lei de Acesso à Informação (LAI).
👉 Você sabia? Sem o Revalida, brasileiros ou estrangeiros graduados em medicina em outros países não podem solicitar o registro nos conselhos regionais de medicina. É o chamado “CRM” que autoriza o médico a trabalhar no país.
🎯 Primeira fase faz ‘peneira’ de candidatos
Segundo Milton de Arruda Martins, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e especialista em formação médica, a diferença entre as duas taxas reflete o objetivo proposto pelo Revalida.
É mais fácil você avaliar conhecimentos médicos com testes bem feitos, com prova escrita. Mas com essa prova você não consegue saber se a pessoa é médica mesmo. Tem que olhar o médico atuando, conversando com o paciente. A segunda fase serve para isso.
Revalida tem a menor taxa de aprovação em 11 edições; médicos formados no exterior apontam falhas e pedem mudanças
📋 Como é o Revalida?
O Revalida tem duas etapas: a primeira é uma prova escrita (com questões objetivas e discursivas); e a segunda, prática, para testar as habilidades clínicas do médico.
A fase prática é dividida por estações que simulam atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) com a participação de atores. No total, são 10 estações, que abrangem cinco grandes áreas da medicina: clínica médica, medicina da família, pediatria, cirurgia e ginecologia e obstetrícia.
Em cada local, o médico tem 10 minutos para seguir uma lista de tarefas determinada e dar as respostas corretas sobre a saúde do “paciente”, indicando diagnóstico, tratamento e encaminhamento, por exemplo. A cada acerto, o médico ganha pontos, que são somados ao final.
Nessa etapa, o candidato não é avaliado no momento da prova: tudo é gravado em vídeo para posterior correção.
O Revalida foi criado há 12 anos para centralizar a validação de diplomas estrangeiros de medicina. Antes, isso era feito diretamente em universidades públicas brasileiras, mas cada uma adotava métodos próprios.
Revalida: na prova prática, em cada estação, médicos precisam seguir uma lista de tarefas
Inep/Reprodução
Aprovados no Revalida desde 2011
🎓 Brasileiros são dois terços dos participantes
De acordo com o Inep, médicos de 88 nacionalidades diferentes já participaram desde 2011, mas os brasileiros representam quase dois terços tanto dos que fizeram as provas quanto dos aprovados na primeira e na segunda fase.
Dos quase 12 mil que fizeram as duas fases e foram aprovados em ambas, 7.471 são brasileiros.
Outros 15.341 brasileiros fizeram pelo menos uma vez alguma das provas do Revalida (independentemente de terem passado ou não para a segunda fase), mas não conseguiram chegar até o final.
Considerando o total de participantes de alguma etapa do exame e o total de aprovados no fim das provas, a taxa de aprovação entre os brasileiros é de 33%.
A segunda nacionalidade com mais aprovados em quantidade absoluta é a cubana: 2.054 conseguiram passar no Revalida, e outros 3.118 fizeram alguma vez pelo menos uma das fases do exame e foram reprovados.
Compare, abaixo, a quantidade de candidatos do Revalida, segundo o país de nacionalidade e o resultado no exame:
Aprovados e reprovados no Revalida por país
📉 Preparação para o Revalida
Milton de Arruda Martins, professor da USP, ressalta que parte das instituições que têm recebido muitos brasileiros acabam oferecendo uma formação de baixa qualidade, o que explica a alta taxa de reprovação do Revalida.
Os candidatos, por sua vez, reclamam de injustiça nos exames, e acabam lançando mão de cursinhos preparatórios, alguns com preços de até R$ 5 mil por dois dias de aulas, para tentar a aprovação.
Daniel Furini, do Interior de São Paulo, tem 36 anos e é um dos brasileiros que deixaram o país para estudar medicina, retornaram, fizeram o Revalida e hoje têm o CRM.
Em seu caso, a medicina foi a segunda carreira, na qual ele decidiu apostar aos 29 anos em uma faculdade na Argentina.
Agora, é a vez da esposa dele, também formada na Argentina, de fazer o exame. A segunda fase da edição 2023 Revalida acontece em 24 e 25 de junho. Dos 10.066 inscritos, 9.236 participaram da primeira fase e 1.216 passaram de etapa.
Uma das plataformas que ela vai usar foi justamente desenhada pelo marido entre janeiro e fevereiro deste ano, depois que ele fez a segunda fase da edição 2022.2 do Revalida, e antes de saber se tinha sido aprovado ou não.
“Eu vi que a principal dificuldade não era na primeira fase, porque ela é universalizada. É basicamente estudar a base teórica. Então, já tem muitos cursinhos nessa etapa”, explicou ele. “O problema todo é como estudar para a segunda fase. Você precisa de outra pessoa, não é um método que estuda sozinho.”
Daniel Furini, do Interior de SP, se formou em medicina na Universidad Nacional de Rosario, na Argentina, e passou no Revalida na primeira tentativa
Arquivo pessoal
Sua plataforma, batizada de Pense Revalida, traz simulados sobre as estações práticas às quais os candidatos serão submetidos na segunda fase, tendo que atender pacientes fictícios, interpretados por atores contratados pelo Inep.
O site ainda permite que um candidato encontre outro, em tempo real, para se unirem e praticarem juntos, revezando os papéis e avaliando o desempenho de cada um.
“Se a pessoa não tem um parceiro a gente adiciona num grupo, e eles se organizam para treinar. A gente tem 1,4 mil treinamentos diários”, contou o médico, que diz que o serviço já faturou R$ 180 mil desde o lançamento, no fim de fevereiro.
G1
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